Curiosidades: Adormecida, de Anna Sheehan

em segunda-feira, 18 de março de 2019

Curiosidades: Adormecida, de Anna Sheehan

Se você ainda não viu, dê uma olhada na resenha de Adormecida :) 

Contos de Fada
A referência mais óbvia do livro é o conto A Bela Adormecida. Porém, ao contrário do conto, que termina com o despertar da princesa, aqui isso é só o começo da história.

A Bela Adormecida, 1959 Walt Disney Pictures
A Bela Adormecida, 1959
Walt Disney Pictures
Temos também um sono muito longo (no livro em torno de 62 anos), o equivalente de uma princesa (a herdeira de uma corporação multimilionária) que é acordada do sono com um beijo (na verdade, mais uma respiração boca-a-boca).

Sem contar que a protagonista chama Rosalinda Samantha Fitzroy e recebe o apelido de Rose - impossível não lembrar de Aurora, da Disney, que tem o apelido de Rosa na sua época de anonimato. 

Além disso, a própria personagem faz referência ao conto em alguns momentos :

 Adormecida, de Anna Sheehan

Inspiração
Em uma entrevista para o Enchanted Ink Pot, Anna Sheehan conta que a inspiração para a história veio de um pensamento que qualquer pai tem enquanto fica perseguindo um filho pequeno pra lá e pra cá: “Ah, se eu pudesse apertar o botão de pause” e perceber que algumas pessoas realmente fariam isso se pudessem. Então passou a pensar no que isso significaria para a pessoa que fosse ‘pausada’.


De como isso virou a estase a que Rose é submetida também tem uma história interessante: uma vez escutou um roteirista norte-americano chamado Blake Snyder falar a seguinte frase (tradução livre): “Estase é igual a morte" – ele na verdade estava falando sobre teoria literária e sobre como se seu personagem não muda a situação dele na vida, ele poderia estar morto.” A frase acabou reverberando na cabeça dela e daí surgiu a fonte de ‘sono’ de Rose.

Observação: Blake Snyder foi um mentor de escrita que publicou três livros chamados "Save the Cat!" sobre esse tema – já entraram na minha lista para dar uma olhada por aí... rsrsrs.


Gênero Literário
Apesar de ter alguma base em um conto de fadas/fantasia, o livro é uma obra de ficção científica que se passa num futuro após algumas catástrofes (econômicas, populacionais, pandêmicas). Porém a autora nunca pensou nele como uma distopia, esse gênero foi acrescentado pelos editores para os fins de publicação. Ela conta um pouco sobre isso em uma entrevista para o Podcast do Stage and Studio.

Personalidade e Abuso
Scarlet O'Hara
E O Vento Levou, 1939
Desde jovem, a autora conviveu com várias pessoas vítimas abuso e cronicamente deprimidas, sendo que ela tem o diagnóstico de distimia também. Para essa história ela pesquisou sobre vítimas de abuso e transtornos dissociativos associados. 

Segundo ela, Rose se tornou o tipo de pessoa que põe os pensamentos de lado, “não vou pensar nisso agora”. Nesse podcast ela compara com o que Scarlet O’Hara (de E O Vento Levou) faz – deixa para depois, mas acaba nunca pensando a respeito.

Conforme a história de Adormecida avança, fica cada vez mais claro o quanto os pais de Rose são abusivos, e uma das coisas que a autora coloca é como esse processo pode ser suave e silencioso, a ponto de a pessoa nem achar que é um abuso (é muito mais claro pensar em abusos físicos).

Conta também que Rose ter se tornado passiva foi um mecanismo de sobrevivência, e essa característica da personagem é algo que alguns leitores reclamam a ponto de não terminarem o livro. E aí ela solta uma frase que achei maravilhosa:


“Você pode ser forte sem ser o fortão que vai pegar uma espada a acertar alguém. Você pode ser uma pessoa forte, mesmo sendo passiva. A forma como as pessoas se tornam passivas nunca é uma história bonita, então eu resolvi contar essa história e deixar as pessoas verem qual é a causa disso. […] Todo mundo tem um diagnóstico, e muitas dessas pessoas [que sofrem/sofreram abuso] são algumas das pessoas mais interessantes. E, sim, elas são quebradas, às vezes é muito difícil para elas se tornarem produtivas e sair de onde elas estão, mas elas têm as histórias mais interessantes, e os corações mais bonitos.” (tradução livre - Anna Sheehan’s “A Long, Long Sleep” - Stage and Studio)

Otto!
 Adormecida, de Anna SheehanAinda segundo o podcast do Stage and Studio, Otto nem aparecia no primeiro planejamento do livro. Eventualmente ele apareceu no almoço sem falar nada, e Anna Sheehan se perguntou porque ele não falava. As informações explodiram na cabeça dela e muitas coisas se resolveram na história.

Otto, obrigada por aparecer, você é um dos meus personagens favoritos!

Outros livros:
Existem dois outros livros publicados dessa autora:

- No Life But This (achei difícil traduzir isso, seria algo mais ou menos como “Sem outra vida além dessa”, no sentido de “essa é a vida que eu tenho”)


É uma espécie de continuação de Adormecida, ainda não traduzida para o português. Mas aqui a história é mais baseada em Otto e do ponto de vista dele pelo que entendi.

- Spinning Thorns (algo como “Espinhos Fiados”, no sentido de espinhos passados na roca)


É uma outra releitura de A Bela Adormecida, mas enquanto em Adormecida, ela focou na protagonista do conto original, aqui ela foca no que aconteceu no reino.

Bloqueio de Autor
Perguntaram a Anna Sheehan no Goodreads como ela lida com o bloqueio de autor. Vejam a resposta (dica: ela mora em uma fazenda):

“Com um machado. É a melhor forma. Na verdade, eu não costumo ter ‘bloqueio de autor’ exatamente. Eu tenho bloqueio de editor, quando eu tenho problemas para editar um livro do jeito que ele precisa ficar para ser vendável. E na verdade, um machado costuma funcionar muito bem se estou tendo problemas para escrever – se estou dentro de casa por muito tempo, um pouco de atividade física é útil, e nós aquecemos a casa com um fogão a lenha.” (tradução livre)

 Adormecida, de Anna Sheehan


O que acharam dessas curiosidades? Eu estou cada vez mais apaixonada por esse livro. S2

P.S. Além das fontes já citadas, outras informações para fazer essa postagem vieram de:
- Imagem Scarlet O’Hara, 1939 
- Imagem Aurora, 1959 
- Imagem Goodreads 




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